19 dezembro, 2007

Início/Meios/Fim

Assisti recentemente ao filme "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford". Confesso que com um pouco de preconceito, porém com uma certa curiosidade. Preconceito, pois trata-se de Brad Pitt no papel principal, e galãs, em geral, não encabeçam projetos dos mais interessantes. E curiosidade, devido ao trailer - no qual fica bem claro que a proposta do filme é destoante da grande produção cinematográfica recente. A tradição romanesca prega que há, e com valores próximos aos que citarei, início, meio e fim, tendo-se o início como introdução a um contexto; o meio como continuidade e desenvolvimento de uma história; e o fim como o momento do tão aguardado desfecho. O público se habituou a ler (e ver) dando maior importância ao fim do que a todo o resto da narrativa, e Jesse James está aí para destruir esta lógica.

O trailer, somado ao título do filme (traduzido "literalmente"), produz a noção de que assistiremos um filme com um fim já conhecido, e é aí que se constrói um filme baseado em seus meios. Primeiramente, é importante se saber o meio pelo qual Robert Ford e Jesse James se conheceram. Posto isso é importante se saber o meio pelo qual eles se tornam próximos (pois o trailer evidencia uma cena na qual Jesse e Robert conversam descontraidamente de forma a mostrar a "admiração" de Robert por Jesse). E para terminar, é preciso se conhecer o meio pelo qual Robert assassina Jesse, e suas condições.

Como meio há também o intervalo entre o silêncio total e a verborragia, presente em muitos momentos no filme. O silêncio total indica a passagem do tempo e cria a ambientação, a verborragia tece a narrativa e enriquece a experiência, e o intervalo entre o silêncio total e a verborragia é montado por pequenos sons, jogos de luzes, e rostos que emitem pequenas falas, ainda que geralmente silenciosas.

De meio em meio, chegamos ao fim - este, já conhecido antes mesmo do início. E o covarde Robert Ford assassina Jesse James, de verdade. Podem acreditar!


2 comentários:

FaMa disse...

Realmente, se um filme consegue ser bom falando dos "meios", sem se perder e sem ser enfadonho, merece todos os créditos. Aliás, esse tipo de filme não anda ocorrendo muito.
Estou tentada a assistí-lo.
E olha: quanto tempo eu não via essa palavra 'verborragia'!
ahahahaahahah

Só tenho uma crítica pesada a fazer:
É preconceito dos grandes achar que galãs não fazem bons filmes, pois é justamente o contrário.
Lembre-se de
Kevin Costner em "O segredo da Libélula" e "Dança com lobos";
Russel Crowe em "Gladiador" e "Uma mente brilhante";
Leonardo de Caprio em "Prenda-me se for capaz" e "Diário de um adolescente"
Johnny Depp em vários filmes
Tom Cruise em "Colateral" e "Jerry Maguire"
Matt Damon em todos os seus filmes
E por aí vai...
Concordo com o fato do Brad não ter feito nenhum filme BÃO ainda. Acho que esse deve ser o primeiro, espero que de muitos.
Até porque agora ele tem uma prole gigante pra sustentar. Ele não pode se queimar mais.
rsrsrsrsr

Anônimo disse...

sabe que eu acho isso fascinante: não é 'o que' se conta, mas 'como' se conta que interessa!