Dando corda
Que bela surpresa a minha em encontrar no bairro de Santa Teresa um lugar dedicado a uma das mais antigas culturas literárias: a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC). Um lugar que nasceu da necessidade de abrigar e apoiar os cordelistas, repentistas etc. E foi com essa finalidade que em 07 de setembro de 1988 foi fundada a ABLC, tendo como presidente o cordelista Gonçalo Ferreira da Silva.
Que bela surpresa a minha em encontrar no bairro de Santa Teresa um lugar dedicado a uma das mais antigas culturas literárias: a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC). Um lugar que nasceu da necessidade de abrigar e apoiar os cordelistas, repentistas etc. E foi com essa finalidade que em 07 de setembro de 1988 foi fundada a ABLC, tendo como presidente o cordelista Gonçalo Ferreira da Silva.
A Literatura de Cordel chegou ao Brasil através dos portugueses na época colonial e foi fortemente difundida no Nordeste. É chamada dessa forma por se tratar de uma composição poética impressa em folhetos pendurados em barbantes que recebiam, em Portugal — segundo Luís da Câmara Cascudo em seu “Dicionário do Folclore Brasileiro” — o nome de folhas soltas ou folhas volantes, o que na Espanha corresponderia aos pliegos sueltos.
O mais interessante na Literatura de Cordel é o seu caráter popular. Feita basicamente por pessoas simples, o resultado são obras bastante intuitivas, totalmente despojadas de qualquer academicismo frio, dando prioridade à construção elaborada e à métrica e ritmo bem construídos. Além disso, possui raízes fincadas na tradição oral — como na literatura grega clássica — e conta geralmente com ilustrações feitas em xilogravura (técnica de gravura que utiliza como base a madeira talhada e depois pintada para imprimir num dado suporte).
Encontra-se a influência do cordel em vários segmentos da nossa cultura, como o grupo “Cordel do Fogo Encantado” que, na música, é um dos seus maiores representantes, não raro, recitando nos shows alguns cordéis, como o “Ai! Se sêsse!...”, que foi feito pelo poeta Zé da Luz (1904-1965) quando disseram a ele que para falar de amor precisava usar corretamente a Língua Portuguesa:
Ai! Se sêsse!...
Se um dia nós se queresse
Se nós dois se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se nós dois se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum eu insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!
Beberam também dessa fonte alguns autores consagrados da nossa literatura nacional, onde Gregório de Matos Guerra, Mário de Andrade, Orígenes Lessa e Ariano Suassuna são alguns dos mais conhecidos.
Beberam também dessa fonte alguns autores consagrados da nossa literatura nacional, onde Gregório de Matos Guerra, Mário de Andrade, Orígenes Lessa e Ariano Suassuna são alguns dos mais conhecidos.
Muito se é falado na decadência e até mesmo na extinção da Literatura de Cordel devido ao progresso tecnológico, mas ao passar poucos minutos na sede da ABLC proseando com o seu presidente, logo se é convencido do contrário, pois o cordel sobreviveu ao advento dos jornais impressos em tipografias; do rádio; da televisão com suas telenovelas; e da internet. Não só sobreviveu a essas tecnologias como também soube conviver muito bem com elas. Hoje a ABLC possui um portal na internet [www.ablc.com.br] de altíssima qualidade que contribui para a divulgação dessa cultura não só no Brasil mas em todo o mundo, e que registra, segundo Gonçalo Ferreira da Silva, aproximadamente 25.000 visitas mensais.
Para os que apostaram na morte da Literatura de Cordel, o prejuízo certamente é grande, pois ela ganha cada vez mais espaço (até o Japão possui um estande de cordel no Museu Nacional de Kyoto). Está previsto para o início de 2008 (ano em que a ABLC completará 20 anos de existência) a publicação de uma obra em dois volumes contendo uma seleção feita pela própria ABLC de 100 cordéis raros com o apoio da PETROBRAS.
O cordel é amplamente acessível, cada folheto custa em média R$ 1,00 e o site pode ser visitado de qualquer lugar conectado à rede. Ela é por muitos conhecida e respeitada, portanto, esse texto pretende prestar serviço não à Literatura de Cordel, mas sim aos que ainda não tiveram oportunidade de conhecê-la.
A Academia Brasileira de Literatura de Cordel fica na Rua Leopoldo Fróes, 37 no bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro. O telefone é (21) 2232-4801, e fica aberta de segunda a domingo de 9h às 19h.
2 comentários:
Caramba, estréia já com um puta-artigo desses! =D Arretado, rapaz!
Tava lembrando do dia em que você me mostrou este cordel em especial. Eu tava com a cabeça cheia e achei bonito e criativo. Hoje já achei ele muito bonito e muito criativo.
Acredito que cordel seja assim: rico e simples. Ou seja, boa literatura.
Parabéns a vcs pelo espaço aqui...tá muito rico.
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