11 setembro, 2007

A arte e o mundo-cão

Dia 26/09/07 assisti, finalmente, à peça "Os suburbanos", que esteve em temporada especial na Sala Iracema de Alencar, do Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá.
A peça, em cartaz há pouco mais de dois anos, recorre a comédia ao retratar o dia-a-dia do típico suburbano, o que quer que isso signifique.
O grande trunfo da obra, algo comum neste gênero, está no inquestionável talento do reduzido elenco que traz, além do seu autor e também diretor Rodrigo Sant'Anna, Thalita Carauta e Isabelle Marques. Aliás, tanto talento já rendeu frutos para os três que tiveram participações na série global "A diarista", além do papel de Lídia para Thalita Carauta na novela Páginas da Vida, de Manoel Carlos. Há ainda um elenco de apoio: o grupo de pagode "Inspirason", também responsável pela trilha sonora ao vivo.
Em seis esquetes podemos assistir aos maneirimos, infortúnios e, por que não, o lazer preferido desta gente que acorda cedo, enfrenta transportes públicos lotados, se submete a uma viagem de quilômetros até as praias da Zona Sul só para arriscar dividir a areia com seus ídolos das novelas e dos esportes - do futebol, mais exatamente - e suporta horas de espera à emergência dos hospitais públicos.
O infiel que deixa a mulher em casa e vai para o "pagode" paquerar; as amigas que vão para a praia de Ipanema, besuntadas de loção para clarear pêlos, competindo e se desentendo, até fugirem, sempre juntas, do "arrastão"; a fanática protestante que tem sua virtude posta à prova por um pedinte e pelo ônibus que não pára;
o casal que, de mala e apetrechos, procura sair da rotina no motel barato; o aperto no trem. São todas situações, se não vividas, testemunhadas, mas, certamente, reconhecíveis.
Vez ou outra, nós rimos ou nos irritamos com episódios bastante semelhantes aos apresentados pelos esquetes e, talvez por isso mesmo, seja difícil escapar a um certo desconforto: um tantinho de sentimento de culpa. Culpa, sim, pelo preconceito; o preconceito que nos leva a rir ou nos irritar porque nos consideramos muito distantes de tudo aquilo. No entanto, bem sabemos que, se não passamos por situações como tais, alguém querido as vivenciaram, ou vivenciam.
Nem só de clássicos vivemos nós, em nossos dias ou noites de folga. Assim sendo, divirtam-se!

Um comentário:

Pedro Nurmi disse...

Vai ter retórica assim...!
Você apresentou opiniões tão amadurecidas que é quase que irresistível concordar sem hesitar.