02 fevereiro, 2008

Política, Racismo e Desculpas


É fato que a política só promove bem-estar a quem nela trabalha. Também é certo que os políticos fazem de tudo para suas canalhices acabarem em pizza, mas paciência tem limite!

Durante o anúncio de pedido de demissão da ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, após o escândalo sobre o uso abusivo do cartão de crédito corporativo (R$100 mil em 2007), ela usou duas desculpas para justificar sua “escorregada” que me chocaram.

Primeiro ela disse que foi vítima de má orientação por parte de seus assistentes administrativos. Ora, se ela não sabe as competências das quais ela deve se ocupar como ministra, então ela não tem competência para ser uma. Se perguntarmos a um advogado, a um faxineiro ou a um agricultor sobre o que eles devem ou não fazer dentro de seus respectivos cargos, eles o revelarão sem titubear. Ora, se a situação fosse inversa – se os assistentes tivessem mandado a ministra comprar material para o escritório com o cartão pessoal dela – certamente ela hesitaria.

Com o cartão do governo, ela alugou carro para viajar no feriado de Finados (um Astra por R$1500) e pagou até cafezinho (míseros R$4). Dá vontade de falar: “Vem cá, mulher, você não recebe salário não!”.

Segundo, ela disse que a denúncia apenas tomou grandes proporções porque ela está sendo perseguida em razão de sua declaração à BBC sobre o racismo de negros contra brancos. Na ocasião, Matilde disse que considerava uma reação normal o fato de um negro insurgir contra um branco, pois ele guarda a revolta por quase dois séculos de discriminação.

Além disso, a ministra se vê perseguida também por ter se posicionado a favor da legalização do aborto.

Peraí, a sra. Ministra quer desviar o foco e a origem de seu malogro pra se fazer de vítima? Uma coisa não tem nada a ver com outra e mais uma vez eu digo: uma pessoa (independente de cor, credo ou sexo) que se faz de vítima, diante de um escândalo extremamente escancarado como esse, não merece estar numa posição de liderança, sobretudo numa pasta recém criada pelo presidente Lula e cuja abordagem é um assunto deveras delicado no Brasil.

Racismo, sra. Matilde, quem faz é o próprio negro contra si mesmo. Ao se submeter a uma posição de vítima, de coitado, de revoltado, ele está se diminuindo e – acima de tudo – perdendo sua dignidade (palavras de quem é negra e já sofreu discriminação, mas que jamais se intimidou com isso). Enquanto acharmos que os negros desse país são vítimas de racismo, nada mudará. A discriminação (seja racial ou outra qualquer) provavelmente sempre existirá, pois a História nos mostra a sua existência desde que os primeiros povos começaram a expandir território. A melhor política de promoção da igualdade racial que poderia existir seria a de acabar com esse Ministério que é a própria admissão da existência de racismo.

Pra quem não sabe ainda, o conceito de raças já caiu por terra no mundo científico: somos todos de uma única espécie humana – e ‘raça’, aliás, foi um conceito inventado para justificar a doutrina do racismo.

Ademais, dinheiro público deveria ser usado sempre nos últimos casos. Pagar viagem de ministro para ele ficar de blábláblá em congresso e conferências mundo afora, como se sua função fosse a de pesquisador, e não a de um chefe administrativo/estrategista, é o fim da picada!

2 comentários:

Pedro Nurmi disse...

Bom, não tenho nada a fazer a não ser assinar embaixo, em todos os aspectos. A coisa já é "feia", e lembro que no dia em que a Rede Globo tratou sobre o assunto durante o Jornal Nacional, utilizou apenas imagens da ministra sorrindo e andando feliz por aí, enquanto o texto narrado apresentava as cifras do desfalque. Posicionalismo crítico no jornalismo não é novidade, mas até que nesse caso talvez ela estivesse merecendo isto.

Anônimo disse...

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